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Maria da Conceição Passeggi

Conferência: Subjetividades clandestinas: experiência narrativa, lógicas secretas e epifanias
11/07/2018 - 9h00

O humano, para Paul Ricœur (2010 :220), “é um ser que se compreende interpretando-se, e o modo pelo qual ele se interpreta é o modo narrativo”. Nosso objetivo é propor uma reflexão sobre narrativas da experiência e a experiência narrativa, admitindo que elas propiciam aproximações de certos modos de ser e de (con) viver, enquanto formas de resistência às pressões hegemônicas que situam esses modos em esferas periféricas como ecos dissonantes. O estudo ancora-se em micronarrativas autorreferenciais de pessoas surdas, de crianças com doenças crônicas e de migrantes, orientando as análises para a noção de subjetividades clandestinas, que se constituem com base em lógicas secretas, desnorteadoras do saber do senso comum.  Os silêncios que lhes são impostos tendem a se transmutar em epifanias, mediante a apreensão do si mesmo, que se desdobra, na experiência narrativa, como autor, narrador e personagem. Propomos apresentar, inicialmente, as razões da emergência de uma “virada biográfica”, que se inicia nos anos 1980, para focalizar, em seguida, a ação de narrar como uma experiência eminentemente humana, na qual e pela qual a subjetividade se constitui. Tomamos, entre nossas referências teóricas, o ponto de vista de Emile Benveniste (PLG, 1989, 1995) que, ao vincular linguagem e experiência humana, admite que a linguagem antes de servir para comunicar serve para viver, e os estudos de Paul Ricœur (1990) sobre identidade narrativa. Para concluir, abordamos as subjetividades (clandestinas), que emergem nas narrativas da experiência, discutindo o entrelaçamento de três figurações do sujeito: o sujeito epistêmico (racional, objetivo), o sujeito da experiência (de carne e osso, emocional), e o sujeito autobiográfico, que se compreende e se deixa ler como um texto narrativo. Esse sujeito autobiográfico, suscetível de renascer de muitas maneiras no universo líquido das narrativas de si, se situaria no alvorecer de uma nova Filosofia das ciências, que interrogaria a possibilidade ou a impossibilidade de narrar como elemento central da condição humana.



Sobre Maria da Conceição Passeggi:
Pesquisadora de produtividade do CNPq. Professora permanente dos Programas de Pós-Graduação em Educação da Universidade Cidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.  Doutora em Linguística e Mestre em Letras Modernas pela Université Paul Valéry (Montpellier-França). Pós-doutorado em Fundamentos da Educação (Université de Nantes, Tours, Paris 13, PUCRS (BEX-CPAES). Líder do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa, Formação, Auto.Biografias, Representações e Subjetividades (GRIFARS-UFRN-CNPq). Membro das Comissões  Editoriais: Revista Brasileira de Educação (RBE-ANPED); “Chemins de Formation” (L’Harmattan); Educação em Questão (UFRN); Revista Brasileira de Linguística Aplicada (RBLA-UFMG). Pesquisadora associada: Laboratório EXPERICE (Paris 13-Paris 8); Fundação Carlos Chagas – CIERS-Ed; FORMAPH (Universidad de Antióquia).  Presidente da Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica (2014-2016). Suas pesquisas e publicações tematizam as narrativas autobiográficas e as escritas de si como método de pesquisa e dispositivos de pesquisa-formação e focalizam a reflexividade autobiográfica como disposição humana, promotora da reinvenção permanente das representações de si e do outro.